A água benta que batizou Contaminou o bebê A medicina e o seu doutor Nada puderam fazer O desespero se apoderou Do padre, do pai, da mãe Foi quando então alguém se lembrou De um feiticeiro de Ossãin Um simples banho de folhas fez O que não se esperava mais
Depois, depois muitos muitos anos depois Rapaz, aquele menino já então rapaz Se fez um rei entre os grandes babalaôs Dos tais, dos tais como já não se fazem mais
A água benta que ao bel prazer Se desmagnetizou Desconectada do seu poder Por um capricho do amor Amor condutor do élan vital Que o chinês chama de ch'i Que Dom Juan chama de nagual Que não circulava ali Ali na grã pia batismal O amor deixara de fluir
Talvez por mero defeito na ligação Sutil entre a essência e a representação Verbal que tem que fazer todo coração Mortal ao balbuciar sua oração
A água benta que o bom cristão Contaminou sem querer A fonte suja que o sacristão Utilizou sem saber A força neutra que move a mão Do assassino o punhal E o bisturi do cirurgião O todo total do Tao Lâmina quântica do querer Que o feiticeiro o sabe ler
Fractal, de olho na fresta da imensidão Sinal, do mistério na cauda do pavão Igual, ao mistério na juba do leão Igual, ao mistério na presa do narval