Ainda mal o sol nascera Já a multidão descera à praça principal Era o grande ajuste de contas E as pessoas estavam prontas a acabar de vez com o mal Tinham sido anos a fio A lutar com a fome e com o frio Ao som de promessas de pão e de conforto Agora o povo queria o poder Já não tinha mais nada a perder Quando um homem tem vida de cão Mais lhe vale ser morto
O sangue correu pelo chão Em nome da revolução e o povo acabou por vencer Celebrou-se a liberdade A igualdade e a fraternidade que acabavam de nascer Mas ao chegar a vez de cada um Trabalhar para o bem comum Aí começaram os dissabores E em vez de ficarem unidos Dividiram-se em mil partidos Lá no fundo, todos queriam ser Ditadores
E as crianças pareciam feias No meio de tanta gente velha Eu ouvi alguém gritar: 'Meu Deus, estou todo picado pelas abelhas!'
Picado pelas abelhas, picado pelas abelhas....
E agora um traficante com ar obsceno Vai vendendo o seu veneno a quem trouxer o dinheiro na mão E um consumidor diz baixinho que tem falta de carinho Ao ser arrastado para a prisão E um vagabundo cheio de aguardente Diz que o desejo há-de estar presente Até ao fim da cerimónia Enquanto um poeta com ar cansado Diz: 'Antes só que mal acompanhado!' E arranca para mais Uma noite de insónia
E as crianças parecem velhas No meio de tanta gente feia Eu continuo a ouvir gritar: 'Meu Deus, estou todo picado pelas abelhas!' Picado pelas abelhas, picado pelas abelhas....