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Lyrics:
[Verso 1] Eu só me lembro da mão trêmula, segurando o isqueiro O olho esbugalhado representa o desespero De um homem sem face, invisÃvel Empurrando a vida na medida do possÃvel Eu desci de nÃvel, me fudi, quebrei a regra Quando eu permiti que o meu destino virasse uma pedra De crack Fui pro ataque, me joguei Só quem sabe do passado tá ligado o quanto eu mudei Vacilei, viciei, me dei mal, to sofrendo... Cérebro fervendo... Derretendo a caminho da derrota, eu descendo... Fudido, fadado a ficar sozinho Sei que tem pedra no sapato Eu tenho pedra no caminho Cai num quarto escuro que não vejo a saÃda Bagunçei minha vida, passagem só de ida No meio do lixo, aqui no fundo do poço Já fui um cara forte. Hoje é só pele e osso As roupas cresceram ou eu quem encolhi To vivenciando um filme com roteiro que eu escolhi Que tem a crackolândia como locação Tô numa prisão que não tem muro, aqui é sem futuro É o final, o fim da linha Meu mundo insignificante reduzido a uma pedrinha Com o poder de destruir, me transformou em zumbi Um escravo que não encontra força para sair Fugindo da polÃcia como se fosse bandido Eu nunca fui bandido, só to sendo consumido Pela droga da morte to sendo prejudicado O crack é uma praga que esculacha o viciado Me fez perder famÃlia, desonrou meu nome Perdi meus documentos, a decência, a fome Muito sujo, vários dias sem banho Vivendo como rato, num buraco, só me atraso, é sem ganho Me acho estranho, como nunca me senti Da primeira tragada pra cá eu já morri Deixei de existir, já to vivendo em luto Desde que botei a cara embaixo deste viaduto Virou do lado avesso, perdi meu emprego Facilitei a porra toda e pela maldita eu fui pego Fiquei surdo, com a visão embaçada Minha história evaporando numa lata amassada Me restando apenas o cheiro da miséria Misturado com prostituição e doença venérea
[Refrão] Euforia e a depressão quando eu me jogo de cabeça na drogadição... Fora do trilho, maltrapilho, sem meu filho, com o dedo no gatilho foi o que senti Sou passageiro da agonia, carregando pedra na cabeça todo dia Escravo da fissura, abalou a minha estrutura Acendendo fogo e apagando a chama, vou envergonhando a famÃlia que me ama Kryptonita, queimando na parte prateada do copo de guaravita
[Verso 2] Vagando feito um cão sem dono Sujeito ao abandono, perambulando pela pedra Me perdi do sono Desenvolvendo comportamento agressivo Sobrevivo aqui no sub-mundo, mas to longe de tá vivo Com esse peso na cabeça que me atrasa É foda todo dia ver parte de mim, virando brasa O bagulho é cruel, não poupa ninguém Tem novinha, tem criança, tem ladrão, tem... Sexo grupal e o vÃcio querendo mais Aliás um boquete aqui custa três reais Tudo fora do lugar, tudo errado, nada certo Nem os traficantes quer que a gente fique por perto... Por que? Chama atenção... Por que? Vira notÃcia... Muito assalto na quebrada, e o bagulho lota de polÃcia Fica salgado, cada um vai pro seu lado Eu saio desequilibrado, todo arrebentado Sistema imunológico fraco, a cada trago mas estrago Cada vez mais magro. Eu tenho medo da viatura Internação compulsória, não quero ser levado pela prefeitura Eles não sabem o que fazer com gente como eu Pensei que fosse fácil de parar, foi o que me fudeu Quando o assunto é o crack, a lei é lerda Muda plano, sai governo e continua a mesma merda FamÃlia? virou pedra... Patrimônio? virou pedra... O coração ainda bate, mas ta morto porque virou pedra Mais uma paulada, fumaça fica presa na garganta, atravessada Todo me tremendo, me sentindo doente Uma mistura de mendigo com narcodependente E essa dependência, tá ligada à violência Que nos leva pra pista, pra tentar roubar o turista Assim eu saio da invisibilidade Quando atrapalho o trânsito pesado na cidade Se um carro atropelar, matar e acabar tudo Ninguém vai se importar com a morte de um crackudo Com dente estragado, cabelo desarrumado Dando um trago na desgraça, dinheiro virou fumaça Gostaria de parar, mas a parada é mais forte Me tirou o poder de decidir, deixou um corte, profundo Me transformando em lixo do mundo De exemplo de pessoa a crackento vagabundo Fase terminal no meu atestado clÃnico Alucinações de um dependente quÃmico...
[Refrão]
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